lundi 23 juin 2008

Olivier Py correndo o mesmo risco de Bob Wilson: ao privilegiar a estética ele perde conteúdo










Os leitores da minha coluna no Terra Magazine sabem o quanto sou fã de Olivier Py...os que nunca leram meus artigos eis os links para dois dos quais escrevo sobre Py:
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI2903835-EI11348,00-De+Paris+as+Minas+Gerais.html

http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1805637-EI6581,00.html

Mas dessa vez sai do espetáculo com um gosto amargo de que ficou faltando algo...Olivier Py começa a se repetir, um pouco como Bob Wilson, a gente tem sempre, pelo menos eu, a impressão de estar vendo a mesma coisa...um espetáculo de Mnouchkine será sempre um espetáculo de Mnouchkine a gente a reconhece a cada momento, mas eles jamais serão iguais ou nos darão esse gosto de déjá vu...Py envereda por esse caminho...

O espetáculo está longe de ser ruim, mas não é a perfeição que se espera de um talento como o dele. Dessa vez ele fica devendo...tudo é grandioso...como se de repente tivesse baixado uma megalomania sem fim, e de repente penso na vida dele, aos 43 anos é um dos maiores nomes da cena francesa, dirige, interpreta, escreve, é diretor do segundo maior teatro nacional francês, ainda brinca de traduzir Ésquilo, ou seja, está brincando de ser Deus...mas dessa vez ele esqueceu até do básico, o elenco é de uma disparidade ímpar, cadê os bons atores??? Se deixarmos de lado Michel Fau como Égisthe e Nada Strancar como Clytemnestre não sobra muita coisa...e por que tanta gritaria? Tive a impressão de que eles sonorizaram o espetáculo e os atores continuaram a fazer como se estivessem sem microfones, por vezes doía no ouvido...teatro microfonado no Odéon Théãtre de l'Europe, é sinal do final dos tempos...patrece que estou vendo um pseudo-produtor brasileiro, desses pretensiosos da nova geração, dizer ao final de uma montagem de O Rigoletto no Municipal do Rio de Janeiro: "tudo era bem bonito mas não sei porque não colocam microfones nos cantores"...
Mesmo assim L'Orestie de Olivier Py é um espetáculo imperdível, até para que a gente saiba que nem sempre os melhores fazem o melhor...acabou a temporada e eu continuo me perguntando, como o faço desde 2001, qual é o sentido de se montar um espetáculo que custa uma fortuna para que ele fique em cartaz de 15 de maio a 26 de junho...o sistema teatral francês é para mim o melhor do mundo, mas confesso que esse desperdício chega a ser revoltante...querendo ou não um sistema que foi concebido para ser o melhor e favorecer a classe artística acaba por despertar certos vícios e mesmo um homem que clama por um teatro popular em digno herdeiro de Jean Vilar, acaba entrando no sistema...
Mas isso é assunto para outras esferas, ainda escrevo uma carta aos franceses dizendo onde é que eles estão vacilando...o que me entristece é que quando eles vacilam a gente fica ainda mais ameaçados pelos americanos...e os que me conhecem sabem o quanto isso me incomoda...
As fotos de cena me foram enviadas pela assessoria de imprensa do Odéon e são do fotógrafo Alain Fonteray, as outras são de minha modestíssima autoria e mostram o final do espetáculo - prazer enorme de ver toda essa turma em cena - e os aplausos do público...

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