mardi 20 juin 2017

IMAGINAI! O teatro de Gabriel em livro

Capa do livro - Leonce e Lena (2006) / Foto: João Caldas

O Facebook é portador de muitas notícias, algumas são especiais, como a postada por Dib Carneiro Neto no dia 24 de maio de 2017, às 23h13:

“Prontinho o livro que organizei com Rodrigo Audi sobre a obra de Gabriel Villela!!! Vejam uma prévia aqui! Em breve, o lançamento em que todos serão convidados. Edições SESC.”.

Fui às nuvens. Para uma jornalista/pesquisadora que é antes de tudo uma mulher de teatro, um livro sobre a obra do Gabriel Villela – meu diretor brasileiro favorito – viria preencher uma lacuna inexplicável deixada pelos pesquisadores e estudiosos das artes cênicas das últimas três décadas. Muitos diretores, infinitamente menos cotados do que Gabriel Villela, foram contemplados por dissertações, teses e pesquisas publicadas, outros tantos são incensados pela academia e sobre Gabriel nada havia sido publicado.
Lacuna preenchida pelo livro de Dib Carneiro Neto e Rodrigo Audi, um verdadeiro presente para os amantes das artes cênicas e em particular para os apaixonados pela obra de Gabriel Villela. Um presente com o aval e a participação do próprio Gabriel. E como em toda a obra do Gabriel a equipe de criação é escolhida a dedo, Dib e Audi não deixaram barato ao escalar a “tchurma” do auxílio luxuoso: Babaya, Eduardo Moreira, Fausto Viana, Fernando Neves, Francesca Della Monica, Luiz Carlos Merten, Macksen Luiz, Rosane Muniz e Walderez de Barros.
Ter acesso a esse livro tornou-se vital. Imediatamente postei um CLASSIFACE – como chamo meus “anúncios” no Facebook – perguntando se tinha alguém vindo de São Paulo ou do Rio para Paris. Uma alma boa que pudesse me trazer o livro.
Poucos dias depois recebo uma mensagem do Dib Carneiro Neto dizendo que ele seria o portador do livro. E assim eu recebi, em Paris, no dia 2 de junho um livro que ele, Dib Carneiro Neto recebeu no dia 29 de maio e que só será oficialmente lançado no Brasil, no dia 13 de julho:
 “Confirmado: o primeiro lançamento será em minha cidade natal, São José do Rio Preto, na noite de 13 de julho, como parte da programação especial do festival FIT. Edições Sesc SP Estaremos lá autografando e brindando: eu, Rodrigo Audi e Gabriel Villela. Ah, e pra quem anda me perguntando, a resposta é SIM, o livro já está à venda mesmo antes do lançamento oficial em Rio Preto e aqui em São Paulo (em setembro). Pode ser encontrado nas Lojas Sesc (físicas e virtual) e também nas principais livrarias, principalmente na Martins Fontes, que é a distribuidora.”.

Dib Carneiro Neto, Gabriel Villela e Rodrigo Audi 

Imaginai 42 espetáculos unidos por causos, histórias, memórias, fatos e fotos, tecendo uma bela colcha de fuxico, que é como o teatro de Gabriel o popular com acabamento de alta costura... Imaginai o Gabriel sendo entrevistado pelo Dib ofertando, por meio do amigo e parceiro, suas memórias sobre cada uma das montagens desses espetáculos que marcaram as vidas de muitos de nós, sem nos negar informações sobre as coxias, as parcerias, o processo criativo, generoso como pode ser um bom mineiro. Imaginai o trabalho do Audi reunindo as imagens desses trabalhos, imagens que transitam entre o sagrado e o profano, imagens que nos encheram os olhos e acalentaram as almas a cada ida ao teatro e a cada encontro com a criação de Gabriel. Imaginai aqueles colaboradores citados mais acima, a “tchurma” do auxílio luxuoso, nos entregando, cada um na sua área de atuação, o melhor do identificado por eles nas criações desse fazedor de sonhos. Imaginaram? Pois IMAGINAI! é isso: 340 páginas dedicadas ao teatro de Gabriel Villela, com verdade, delicadeza e beleza, única forma de falar do teatro desse mineirinho amado que, sendo Antônio Gabriel, oscila entre santo e arcanjo, capaz de operar milagres e ou fazer revelações divinas no altar que escolheu para si, o palco.

OS ESPETÁCULOS QUE VI E JAMAIS ESQUECI/ESQUECEREI
Romeu e Julieta (1992-1995-2012) - Grupo Galpão / Foto: Ellie Kurttz
A Rua da Amargura (1994) - Grupo Galpão / Foto: Guto Moniz
 Macbeth (2012) / Foto: João Caldas
Um Réquiem para Antonio (2014) / Foto: João Caldas
A Tempestade (2015) / Foto: João Caldas

Lendo Imaginai! mais uma vez me digo que é impossível ver, escrever ou falar sobre o teatro de Gabriel sem pensar na definição de teatro popular de Antoine Vitez: popular é o teatro elitista para todos. Elitista no sentido de ser um teatro construído com a simplicidade dos que fazem com dedicação e delicadeza sua arte; um teatro coletivo calcado na riqueza do detalhe; um teatro com aparência de prêt-à-porter, mas com acabamento de alta costura; um teatro onde os sotaques não comprometem a universalidade do diálogo com o público: “um teatro que é resultado de pesquisa, erudição, técnica e envolvimento tanto nos aspectos operacionais como intelectuais, sem compartimentar saberes”.
E Gabriel que não compartimenta, mas compartilha saberes, porque sabe tudo de teatro, mineiramente afirma:
Cada vez sei menos o que é o teatro, do que ele trata, e menos também sobre o universo misterioso dos atores. O mundo ficou feio demais, a humanidade está doida, o fluxo migratório no planeta está intenso, o Mediterrâneo virou um cemitério aquático, irmão mata irmão. Contra essa feiura, só a poesia das palavras. Faço teatro por uma curiosidade incalculável sobre o homem. Sinto como se todas as peças que eu fiz até hoje fossem nada mais que a organização sistemática de um repertório de temas sagrados que me são muito caros, os quais de alguma maneira tento entender. É como se, juntas, todas essas peças procurassem compor um evangelho repleto de boas-novas para a humanidade.”.
E foi assim que eu recebi IMAGINAI! como o evangelho da religião que escolhi para mim: o teatro.

OS ESPETÁCULOS QUE LAMENTO NÃO TER VISTO
Rainhas do Orinoco (2016) / Foto: João Caldas
Os Gigantes da Montanha (2013) - Grupo Galpão / Foto: Guto Moniz|
Sua Incelença Ricardo III (2010) - Clowns de Shakespeare / Foto: Rafael Telles

Desde que me entendo por gente, mesmo antes de ser gente de teatro, entendi que teatro bom era aquele que a gente nunca esquecia. Aquele em que a gente ri e chora, contrariando os que pensam que a emoção bloqueia a reflexão, para esses aliás, Ariane Mnouchkine mandou uma mensagem que adotei para sempre: "nenhum pintor, romancista, poeta, nenhum escultor de importância significativa, colocou o assunto nesses termos. É uma falsa questão. Que estes auto-proclamados intelectuais passem primeiro pela emoção, depois veremos se suas ideias se sustentam.”.

Lendo IMAGINAI! vi que não sou o melhor público do Gabriel, apesar da minha paixão pública, explícita e notória – há quem diga que uma jornalista/pesquisadora/acadêmica não deveria se expor assim – , nem de longe vi todos os seus espetáculos. Mas de cada um dos que vi, a saber Vem buscar-me que ainda sou teu (1990), A vida é sonho (1991), Romeu e Julieta (1992), A Rua da Amargura (1994), Torre de Babel (1995), Mary Stuart (1996), Ventania (1996), Salmo 91 (2007), Calígula (2008), Macbeth (2012), Um Réquiem para Antonio (2014), A Tempestade (2015) e, a mais recente criação desse “despertador de sonhos” – como bem diz Dib Carneiro Neto no seu texto de apresentação do livro –  Peer Gynt (2016), que não entrou no livro – tenho um pedacinho guardado em mim.

Se a paixão por Romeu e Julieta é enorme, e compartilhada por meio mundo, tenho uma especial queda por A Vida é sonho, porque foi durante a turnê do espetáculo que efetivamente conheci Gabriel Villela, em turnê com As Atrizes – com minha amada Tônia Carrero, dirigida por minha não menos amada Bibi Ferreira – nossos caminhos se cruzaram com alguma frequência nos corredores de hotel e nas coxias desse Brasil, e vi a peça diversas vezes, foi a peça do Gabriel que mais vi e foi ali que caí de amores por ele e pelo teatro dele. Feliz ao reencontrar em IMAGINAI! uma das frases do texto de Calderón de la Barca que tanto amo: “ Pode ser que sonhemos; e o faremos; pois estamos em um mundo tão singular que o viver é só sonhar e a vida ao fim nos imponha que o homem que vive sonha o que é até despertar.”.

Um livro de teatro ou sobre teatro pode e deve ser tão bom quanto o teatro. Essa tem sido minha sensação em relação a IMAGINAI! nesses dias que o tenho como parceiro, como companhia. E isso tudo sem o ranço da academia. Apenas com a escrita clara, com a palavra honesta, com a verdade verdadeira. Como nos causos contados pelo Gabriel no café de um shopping da Paulista no nosso mais recente encontro, numa já distante tarde de novembro de 2016, antes de eu vir para Paris. A cada página uma lembrança, uma descoberta, a sensação de reviver cada um desses espetáculos, e mais ainda, me deixar invadir pelos que não vi. E morrer de vontade de ver três entre esses tantos que não vi: Sua Incelença, Ricardo III, Gigantes da Montanha e Rainhas do Orinoco.

A história do teatro brasileiro, que anda precisando ser reescrita – não é minha amiga Tânia Brandão? – agradece a Dib Carneiro Neto e a Rodrigo Audi pela ideia de gênio, assim como agradecerá ao SESC que tem contribuído muito para que essa história fique registrada no papel, como deve ser. Mas acima de tudo agradeço a Gabriel Villela pela generosidade da entrega, pela confiança depositada no Dib e no Audi, pelo abrir o coração e compartilhar com quem viu, mas acima de tudo com quem não viu e com quem jamais verá, a riqueza desse teatro que tanto fascina e seduz.

Deolinda Vilhena
20 de junho de 2017
Último dia da primavera parisiense


PS1 – Curiosa com o Imaginai! do título fui em busca de uma explicação. Ela é dada por Dib Carneiro Neto numa entrevista ao jornal Diário da Região (São José do Rio Preto): “é uma das expressões que Gabriel mais gosta de usar, citando Shakespeare. É uma expressão que está presente em várias peças desse autor bardo e Gabriel já montou várias dessas peças em sua carreira. Ele é um diretor movido a imaginação, que prefere a fantasia, em vez de textos realistas psicologizantes. Para ele, fazer teatro é acessar a imaginação da plateia. O livro, portanto, não poderia ter um título melhor - e também foi ele quem sugeriu.”.

PS2 – E que ideia de colocar no final os artigos em inglês. Estou esperando quem venha do Brasil e me traga dois exemplares, um para Ariane Mnouchkine e outro para Omar Porras. Ariane porque ela sabe apreciar o belo, e as imagens do Gabriel são esplendorosamente belas. E Omar porque ele é irmão de berçário do Gabriel mesmo se nasceram em datas e países diferentes. Essa dupla precisa se conhecer e se reconhecer.

PS3 – Detestei não ter sido convidada para escrever um artigo. Pronto, falei!


dimanche 5 mars 2017

DÉJÀ TROIS MOIS À PARIS.

Foto: Adriana Liberato De Mattos Khoury

O tempo passa. O tempo voa. O Bamerindus faliu, mas eu continuo numa boa. Cheguei em Roissy-Charles de Gaulle no dia 6 de dezembro, em férias oficiais. Dia 1º de janeiro começou o ano de pós-doutorado que chegará ao fim em 31 de dezembro de 2017.
Três meses déjà...o tempo passa, muito, muito rápido.
Três meses, mais de 10.000 fotos, 21 peças de teatro, 6 concertos, 10 exposições em museus e palácios os mais diversos, 4 conferências/master class, 1 seminário com sete aulas no Collège de France, sem falar na pesquisa, que avança, nos encontros com os amigos, nos passeios, nas faxinas, nas pilhas de roupas a passar, nas obras em casa...ou seja a vida segue. 
Muitos me perguntam o que me trouxe a Paris. Eis a explicação: um projeto de pós-doutorado. Quer saber um pouco mais? Lá vai...


A FORMAÇÃO E A QUALIFICAÇÃO DOS TÉCNICOS EM ESPETÁCULOS TEATRAIS
POR MEIO DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Local de Desenvolvimento do Projeto: 
UNIVERSITÉ PARIS OUEST NANTERRE LA DÉFENSE 
UFR DE PHILOSOPHIE INFORMATION  COMMUNICATION LANGAGE LITTÉRATURE ARTS DU SPECTACLE (PHILLIA) 
Équipe de recherche en Histoire des arts des représentations (HAR - EA 4414)

OBJETIVOS COM DEFINIÇÃO E DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

O objeto desse projeto é o desenvolvimento de uma pesquisa que nos permita conceber, sistematizar e implementar um Programa Permanente de Capacitação de Técnicos em Espetáculos Teatrais, na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, utilizando como instrumento e ferramenta de base os princípios da Extensão Universitária. O Estágio Sênior permitirá a sistematização, dentro de um quadro teórico preciso, dos conhecimentos adquiridos ao longo de quase 40 anos como profissional da prática teatral na área de produção/gestão, aos quais se agregaram os conhecimentos específicos sobre Extensão Universitária frutos dos últimos cinco anos (2011-2016) atuando como Professora da Escola de Teatro e do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFBA.
De modo sintético nossos objetivos são os seguintes:
Objetivos gerais:
Teóricos:
· A presente pesquisa tem como objetivo geral conceber, sistematizar e implementar na Escola de Teatro da UFBA, um Programa de Capacitação de Técnicos em Espetáculos Teatrais viabilizado por meio de um projeto permanente de extensão universitária;
Práticos:
· A presente pesquisa tem como objetivo geral a elaboração do conteúdo programático, baseado na articulação entre componentes teórico-práticos, dos cursos livres de cenotécnico, contrarregra, diretor de cena, maquinista, operador de luz, operador de som e secretário teatral.

Objetivos específicos:
· Aumentar o interesse, ao mesmo tempo, teórico e prático, pelos saberes e fazeres dos profissionais técnico-administrativos em espetáculos teatrais;
· Buscar a capacitação para o mercado, através de aulas teórico/práticas;
· Compartilhar a experiência profissional nas áreas envolvidas;
· Contribuir para inserir no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFBA o estudo da influência das condições de produção no modelo brasileiro do fazer teatral;
· Estimular pesquisas relativas aos eixos temáticos escolhidos para os cursos livres e assim, contribuir para que a história do teatro brasileiro, ultrapasse o debate estético e leve em consideração as condições de produção do espetáculo teatral;
· Fornecer condições necessárias ao aprimoramento profissional dos técnicos em espetáculos teatrais;
· Iniciar uma reflexão comentada sobre a necessidade da evolução e da formação/capacitação dos técnicos em espetáculos teatrais;
· Oferecer aos membros da classe teatral baiana, mas acima de tudo ao jovem em busca de inserção no mercado profissional, a oportunidade de uma formação que atende uma demanda da cadeia produtiva do setor das artes cênicas.

jeudi 23 février 2017

O teatro necessário de Gabriel Villela

Chico Carvalho é Peer Gynt 
Foto: Divulgação
Cá estou em Paris, tentando manter atualizado um blog que se chama Paris: uma festa para poucos! e via Facebook – um viva às redes sociais – sou informada da reestreia de Peer Gynt, poema dramático de Ibsen, com direção, adaptação, cenários e figurinos – porque ele não deixa por menos – do meu anjo-imperador Gabriel Villela.

Não precisou de mais nada para que, por umas horas, eu decidisse esquecer Paris, afinal para saudar o teatro brasileiro de qualidade não é crime, e muito menos pecado, falar de outra coisa que não seja Paris nesse blog. Além do mais, estava me sentindo em dívida com Gabriel e com toda a turma do espetáculo, afinal, não foi por acaso que saí de Salvador para ir a São Paulo ver Peer Gynt. Assim como não foi por acaso, a decisão de que Peer Gynt seria a última peça vista no Brasil, antes desse meu ano de exílio, mais do que voluntário, na Cidade Luz. Havia em mim uma necessidade vital de sair do país em paz com o teatro brasileiro.
O que sei é que desde a tarde de domingo, 27 de novembro, quando entendi que ando a chorar diante do belo, queria escrever sobre o espetáculo. Rascunhei algumas linhas, mas a mudança marcada para uma semana depois acabou atropelando meus planos. A vida quis que, apenas quase três meses após ter me deliciado com as aventuras desse Macunaíma nórdico, eu pudesse me sentar em Paris, depois de ter visto nesta terra cerca de vinte espetáculos os mais diversos, para repensar e rever, nas minhas memórias teatrais/afetivas, o espetáculo do Gabriel.

Foto João Caldas
Aproveito a ocasião para, mais uma vez, explicar que NÃO SOU CRÍTICA DE TEATRO. Em maiúsculas, para não deixar dúvidas. Os meus 40 anos de teatro e a minha titulação acadêmica, estou em Paris fazendo meu segundo pós-doutorado em Teatro, até me habilitariam a exercer a profissão sem pagar mico, mas isso me obrigaria a ver teatro de uma outra maneira e eu só aprendi a ver teatro de uma maneira: com o coração. Sou capaz de analisar cada uma das ferramentas usadas na construção de um espetáculo, mas não tenho vontade. De um espetáculo espero apenas que me toque, me emocione e seja bem feito, bem-acabado, sem ranço de espetáculo de final de ano de escolinha infantil.
Gosto mesmo é de ser uma palpiteira com conhecimento de causa. E com isso, sem precisar falar – escrever – de forma rebuscada, simplesmente despertar nas pessoas a vontade de ir ao teatro. Nem sempre aquilo que eu não gosto é ruim. Longe disso. O legal é poder fazer a distinção entre o que eu gosto e o que tem qualidade, independente de eu gostar ou não. A honestidade intelectual vem em primeiro lugar, sempre. Isso para mim está intimamente ligado à ética e quem me conhece sabe da minha luta para que a ética ocupe um espaço cada vez maior na sociedade antiética e imoral (ou seria amoral?) em que vivemos.
Dito isso, a palpiteira vai ao site do SESI – SP, para dar uma olhada no material de divulgação e checar as mudanças no elenco, conferir horários etc., porque ela acredita em jornalista que faz dever de casa, e constata feliz a quantidade de prêmios conquistados pelo Peer Gynt do Gabriel: Grande Prêmio da Crítica da APCA – Associação Paulista dos Críticos de Arte; Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem – categorias: Melhor Espetáculo Jovem, Melhor Produção, Melhor Direção, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Trilha Adaptada e Melhor Figurino; Prêmio Aplauso Brasil 2016 na categoria Melhor Figurino. A exceção de Peer Gynt e GOD, do meu mais que amado amigo Miguel Falabella, não vi nada da temporada paulista de 2016, a vida de funcionária pública federal séria e cumpridora dos seus deveres me impediu de estar mais vezes em São Paulo, logo, não posso julgar o que não vi. Mas, posso dizer que Peer Gynt merece todos os prêmios, um espetáculo com a grife Gabriel Villela é, sempre, um luxo em todos os sentidos.

O anjo Gabriel atento aos detalhes
Foto: Divulgação

O teatro de Gabriel Villela por ser luxuoso e rico, me faz pensar que por vezes ele é mal avaliado. Tenho sempre a impressão de que ele caminha solitário pelo teatro brasileiro contemporâneo. o que me leva a pensar na situação vivida por Patrice Chéreau. Depois de anos instalado em Milão, a convite de Roger Planchon, ele volta para a França e se instala no Théâtre National Populaire de Villeurbanne, região suburbana de Lyon. Na França pós-maio de 68, as discussões sobre a concepção de teatro popular estavam na crista da onda, usando linguagem da época, os debates franco-franceses, como sempre, acirrados e Chéreau chega sem medo de defender as mudanças que busca e se coloca como um dos nomes da renovação. Ele sabia que a beleza tem um preço e nunca se recusou a pagar por ele, por falar em Chéreau ele também montou um Peer Gynt, versão integral, sete horas de duração, com 23 atores em cena e com Maria Casarès no papel da mãe do herói e Gérard Desarthe no papel de título, até hoje considerado como um dos seus mais belos espetáculos.
Há uma frase de um grande nome da cena internacional, mas particularmente da cena francesa, Antoine Vitez: “teatro popular é o teatro elitista para todos”. Uso essa frase sempre que preciso explicar que teatro popular não precisa ser a corrida em busca de um teatro pobre – não estou fazendo alusão a Grotowski – e muito menos ter acabamento de escola de samba do grupo de acesso de cidade do interior. Os espetáculos de Gabriel são, para mim, a síntese perfeita da frase de Antoine Vitez.
A beleza visual dos espetáculos de Gabriel é tão impactante que, ao longo dos anos, venho notando que as pessoas não observam um lado dele tão forte quanto esse das visualidades – Eduardo Tudella olhe eu aqui pensando em você – da cena: a do diretor de ator. Costumo dizer que grandes diretores de espetáculo não são bons diretores de atores – há exceções – como se o cuidado com o todo os afastasse dos detalhes de preparação de ator. Mas aí vem Gabriel, e como Gabriel prepara bem esses atores.

Foto: João Caldas

Essa preparação se faz sentir nas “cenas de comparsaria”, como diria minha Bi amada, verdadeiro deleite. Existe a noção de conjunto, de “ensemble” como dizem os franceses. E claro, há os destaques, em especial Chico Carvalho que descobri em A Tempestade montada por Gabriel em 2015. Lembro-me, como se fosse hoje, das inúmeras vezes que Bibi (sim Bibi Ferreira foi comigo ao teatro ver A Tempestade do Gabriel, somos fãs de carteirinha dele) apertava com força as minhas mãos, dizendo “que ator”! Não posso deixar de citar Maria do Carmo Soares, no papel da mãe de Peer. Que força em cena, que presença mágica, os minutos iniciais, as primeiras palavras são suficientes, o recado está dado: há uma ATRIZ no palco.
Nesse mesmo tópico há algo importantíssimo: os atores de Gabriel Villela falam bem, articulam corretamente, e pasmem vocês, fazem um musical sem usar microfones. Demorei uns quinze minutos na plateia para crer que as vozes que eu ouvia eram de verdade e não estavam distorcidas por um microfone. No final do espetáculo, acho que foi a primeira coisa que disse a Gabriel, ainda no foyer do teatro: seu espetáculo não é microfonado! Que felicidade para quem há cinco anos e meio convive com espetáculos montados – aos gritos – em salas que oscilam entre 50 e 250 lugares com atores com microfone, produções sem muitos recursos financeiros gastando dinheiro em microfones no lugar de chamar um preparador vocal que coloque aprendizes e profissionais em condição de falar. Não, não é por acaso que no programa – belíssimo, como toda a programação visual – está lá o nome de Babaya como preparadora vocal e diretora de texto, Babaya arrasa. E de quebra, a direção musical de Marco França, ele mesmo em cena quando vi o espetáculo. Impossível não pensar numa oficina do Jean-Jacques Lemêtre em Salvador, em 2013 creio eu, em que recebi a ficha de inscrição de Marco França. A delicadeza e a humildade em pessoa, saindo de Natal, deixando os Clowns de Shakesperare por uns dias para buscar o encontro com um mestre na sua área de atuação. Pouco tempo depois, ele é um mestre. 

A inesquecível cena da morte da mãe de Peer Gynt
Foto: João Caldas

O Peer Gynt do Ibsen é muito fácil saber o que é, um google básico resolve, mas o Peer Gynt do Gabriel é muito mais do que a busca do homem ou a procura de si mesmo, e você precisa ir até o teatro para descobrir. Amo textos que dão ao diretor condições de sonhar alto, de correr riscos, de se aventurar por mundos os mais diversos, em que ele pode ir além dele mesmo, Gabriel não perde a deixa, aproveita a dimensão épica do texto, reforçando a teatralidade do espetáculo sem esquecer que não se trata apenas de um poema dramático, mas antes de tudo de um espetáculo de teatro. E ai Gabriel excede.

Abro espaço no textão – lê até o final quem quer – para falar de uma cena em especial, a mais bela e tocante de todas, que fez dos meus olhos brotarem cachoeiras, sobre a qual eu seria incapaz de dizer algo mais perfeito do que meu colega e amigo querido, Dib Carneiro Neto em seu site Pecinha é a vovozinha e faço minhas as palavras dele:

“a cena mais linda da peça, em minha opinião, está, de novo, relacionada à figura da mãe do personagem principal. Arrisco dizer que nunca vi no teatro cena mais acertada sobre o momento da morte de uma personagem. O filho, feito uma Sherazade do folclore norueguês, conta histórias de reis e castelos para a mãe morrer feliz e em estado de encantamento. A eternidade sendo alcançada pela via desobstruída da mais pura imaginação. O casamento do texto tocante de Ibsen com a direção poética de Gabriel Villela resulta na mais bela reverência ao mundo das fábulas que já vi em cena.
“Está pronta, mamãezinha?”, pergunta Peer, entre uma e outra frase de seu ‘reconto’ fantástico e etéreo. “São Pedro, agora deixe ela entrar aí sossegadinha no meio dessa gente boa!”, pede o filho ao porteiro do céu. E o diretor Villela acentua o afeto da cena com o uso de adereços da ordem quimérica de quem sabe ser sublime para alcançar o celestial: um buquê de flores artesanais coloridas, inspirado na celebração mexicana do dia dos mortos, e uma expressiva máscara indígena da região amazônica.  Não bastasse a força simbólica desses adereços sincréticos – sempre um trunfo especial na carreira do imaginativo diretor – e ele ainda arremata a grande cena com o elenco interpretando divinamente a canção Lapinha, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, em respeitosa formação de bloco de carnaval de antigamente. É ver para crer: ápice antológico e inesquecível, para marcar época nesse palco histórico da Avenida Paulista (...)”.
Para quem perdeu a figura materna duas vezes, em 1981 com a morte de Clara Nunes; em 2002 com a morte da minha mãe, Almerinda, e em ambas as vezes estava ausente, por caprichos da vida, essa cena substitui o luto que não foi feito, pois não pude estar nas despedidas, não participei do ritual final. E confesso: quando o elenco começou a cantar Lapinha – o Paulo César Pinheiro é viúvo da Clara – controlei os soluços, mas não consegui conter as lágrimas. Teatro bom para mim é esse: o que me faz sentir viva e me permite sair do teatro melhor do que entrei. E isso esse “caipira-mineiro-barroco-universal”, na perfeita definição do Dib, chamado Gabriel Villela tem feito comigo com frequência, está explicado porque sempre digo que ele é meu diretor preferido?
São quase duas da manhã em Paris, em São Paulo eles devem estar deixando o teatro do SESI depois da reestreia, e eu coloco aqui o ponto final na minha declaração de amor a um Imperador travestido de Anjo, entenderam porque eu não posso fazer críticas? Um crítico não pode fazer declaração de amor, uma palpiteira pode...

SERVIÇO PEER GYNT
Autor: Henrik Ibsen
Direção, adaptação, cenografia e figurinos: Gabriel Villela
Direção Musical: Babaya e Marco França
Preparação vocal e Direção de Texto: Babaya
Direção de Produção: Claudio Fontana
Elenco: Chico Carvalho, Cacá Toledo, Danila Cury, Daniel Maia, Daniel Mazzarolo, Helô Cintra, Jonatan Harold, Letícia Medella, Leonrado Ventura, Luciana Ramanzini, Marco Furlan, Mariana Elisabetsky, Maria do Carmo Soares, Romis Ferreira e Rogério Romera.
Quando? De 22 de fevereiro a 19 de março
Horários: Quarta a Sábado às 20h / Domingo às 19h
Onde: Teatro do SESI-SP – Centro Cultural FIESP – Ruth Cardoso
Avenida Paulista, 1313, Cerqueira César, São Paulo
Em frente à estação Trianon-Masp do metrô
Informações: Telefone: (11) 3146-7405
Classificação: recomendado para maiores de 14 anos
Duração: 110 minutos


lundi 13 février 2017

Christiane Jatahy na Comédie-Française

Meu artiguete (são apenas 5.500 caracteres) no jornal O Estado de S. Paulo, sobre o maior gol internacional marcado pelo teatro brasileiro em todos os tempos: o convite de um encenador, no caso Christiane Jatahy, para dirigir um espetáculo na Sala Richelieu com a trupe da Comédie-Française, primeiro e mais importante teatro nacional da França.

samedi 11 février 2017

Eu vi une bête de scène! Merci, Gérard!

   
Absoluto! Necessário! Nutritivo!
Foto: Deolinda Vilhena

Depardieu chante Barbara! Um sonho! A imprensa e a divulgação anunciavam nove concertos excepcionais! A maior atração da temporada! Em horas todos os ingressos vendidos! Detalhe: ingresso a 55 euros* – menos de 200 reais – para ver Gérard Depardieu. Sim, nada mais que a estrela maior do cinema francês, cantando Barbara. Aos 68 anos Depardieu tomou para si, amigo amado e querido de Barbara, a abertura das comemorações dos 20 anos da morte da Dama de Negro da canção francesa.
Poderia lotar o Palais des Congrès ou o Palais des Sports, mas a escolha recaiu sobre uma sala pequena, mais conhecida como o teatro que durante décadas abrigou a companhia de Peter Brook, o Théâtre des Bouffes du Nord. Na plateia apenas 530 pessoas. Todo mundo se sentindo meio escolhido, meio privilegiado. A certeza de ver um espetáculo único. E eu vi. Desde a entrada em cena dos dois Gérard. Aplausos sem fim. Verdadeira ovação. Ele suspirou fundo, sufocado pelo amor que chegava em forma de urros, aplausos, gritos de bravo, e o espetáculo nem tinha começado.
Quando começou eu entrei em órbita, da quarta ou quinta música em diante, Drouot eu chorei, muito, a ponto de ser obrigada a engolir o soluço e o choro. A entrega de Gérard, o som do piano do Daguerre, o fraseado perfeito de cada composição, “o coração e as tripas sobre o piano” como disse Eric Bureau em uma crítica. Vídeos em minha cabeça, vários, da vida da Barbara, da vida do Gérard, da presença dele, enquanto artista, na minha vida. Impossível não lembrar que o que me trouxe até aqui foi a cultura francesa, foi a língua francesa, foram os artistas franceses que fizeram de mim essa paixão ambulante pela França.
Olho aquele palco limpo, como cenário apenas os muros envelhecidos do Bouffes du Nord. Em cena nada além de um piano: o de Barbara. E dois Gérard. O Depardieu, amigo íntimo da cantora a ponto de ter um quarto na casa em que ela morava. E o Daguerre, 17 anos como pianista da cantora. No roteiro quatorze canções de Barbara, tão difícil explica-la para quem não a conhece. Algumas das canções dela são para ouvir longe de uma Gilette, o risco é grande. Kit suicídio perde. Quem me conhece sabe que eu gosto muito da Edith Piaf, pois saibam que Piaf – para mim – é apenas um pardal perto de Barbara. Muito mais identificação com Barbara que com Piaf, infelizmente no Brasil só uns poucos privilegiados tiveram acesso as canções dela. Eu mesma só descobri verdadeiramente Barbara há 20 anos, quando ela morreu.
Em compensação minha paixão por Gérard Depardieu é antiga, e tão intensa mas tão intensa que supera toda e qualquer loucura dele, desde sua conversão ao Islã – desconverteu! – à sua amizade com Poutine. Tudo eu perdoo em nome do ator sem igual que ele é, na minha modesta opinião o maior que vi em cena e no cinema. E eu vi muita gente em cena. A identificação que estabelecemos com um ou outro artista não se explica. Não, eu não fui ver o Gérard Depardieu cantar. Eu queria vê-lo dizer os versos de Barbara, como ninguém mais poderia fazê-lo. E foi o que vi. Ele até canta. Lindo! Mas a intensidade com que ele diz cada uma dessas palavras seja falando, recitando, dizendo ou murmurando é que calou fundo no coração de todos os presentes.
Como se não bastassem as canções, Gérard pinçou aqui e acolá frases de Barbara, que ditas por ele me dava a impressão de que ele escrevera aquilo tudo e nos dizia que era dela. Tamanha a entrega e a verdade, ele estava completamente entregue em cena.
Olhava de longe para Julie, tentando perceber a reação da filha que já tinha visto o ensaio geral na véspera, buscava Roxane e Jean, os filhos mais novos, mas não os vi, desabei quando Gérard começou a cantar A force de, letra de Guillaume Depardieu, morto em 2008, aos 37 anos de idade, musicada por Barbara e que diz assim: “C'est toi/Que j'ai perdu/ Je t'ai perdu…”. Chorei de soluçar. E lembrei que tive a chance de ver Guillaume em cena.
Mas o pior estava por vir: Nantes!

Voilà, tu la connais l´histoire / Il était revenu un soir
Et ce fut son dernier voyage / Et ce fut son dernier rivage
Il voulait avant de mourir / Se réchauffer à mon sourire
Mais il mourut à la nuit même / Sans un adieu, sans un "je t´aime"
Au chemin qui longe la mer / Couché dans le jardin des pierres
Je veux que tranquille il repose / Je l´ai couché dessous les roses
Mon père, mon père
Il pleut sur Nantes/ Et je me souviens
Le ciel de Nantes / Rend mon cœur chagrin

Todas as emoções misturadas, a interpretação doída de Gérard e as lágrimas escorrem...meu consolo é que tem muita gente fungando no teatro. E que Gérard Depardieu precisa respirar e enxugar as lágrimas. Ele disse nesse momento: “L’émotion ça bouscule la bouche”.
Mas ainda falta a minha canção preferida, ou uma das preferidas tantas e tão lindas elas são: Gotingen.

O faites que jamais ne revienne / Le temps du sang et de la haine
Car il y a des gens que j'aime, / A Göttingen, à Göttingen.
Et lorsque sonnerait l'alarme, / S'il fallait reprendre les armes,
Mon coeur verserait une larme / Pour Göttingen, pour Göttingen.

A emoção invade a sala, e entre uma canção e outra os aplausos e os gritos de BRAVO são tão intensos que aumentam a minha emoção, “du jamais vu”, cada música parecia ser a apoteose final. E Gérard é um afetivo, ele é generoso, ele retribui a cada nota o amor que recebe desse público apaixonado diante do seu artista. Ma plus belle histoire d’amour c’est vous...isso estava implícito! Durante uma hora e quarenta e cinco minutos nos todos vivemos uma bela história de amor. A tal ponto que ninguém queria ir embora...
O primeiro bis foi Une petite cantata, 530 pessoas acompanhando Depardieu nos versos:

Mais tu es partie fragile vers l'au-delà
Et je reste, malhabile fa sol do fa
Je te revois souriante assise à ce piano-là
Disant bon je joue, toi chante,
Chante chante-la pour moi
Si mi la ré si mi la ré si sol do fa
Si mi la ré si mi la ré si sol do fa

O segundo bis foi Dis, quando reviendras-tu? , ele pede para que cantemos junto. Ninguém quer ir embora mesmo. Eles voltam para o terceiro bis, um trecho de L’île aux mimosas de Lilly Passion, espetáculo que Barbara fez com Depardieu em 1986. Verdadeiro triunfo com direito a chuva de flores, rosas brancas e mimosas amarelas. Inesquecível. Deslumbrante. Mágico. Colocou o público no bolso desde o primeiro minuto, na verdade ao comprar o ingresso estávamos todos no bolso de Gegê.
Ele fez um agradecimento lindo, e eu copiei o texto do teleprompter**, mas depois vi que era mais ou menos o mesmo do CD: “Merci à vous de m'avoir permis de connaître à 60 ans et des poussières ce bonheur de chanter, merci à vous, merci à elle.”.
E tome aplausos...em dois meses em Paris e mais de 20 espetáculos foi a primeira standing ovation que vi. Delírio total. Na plateia um Charles Aznavour de 92 anos prestigiando o colega e homenageando Barbara. Lindo gesto. Delicadeza total. E quando fui pedir a ele para fazer uma foto e disse que era brasileira, ele não perdeu a deixa e mandou um português de Portugal: és brasileira? A conversa engatou no ato. Como diz o Cacique francês adora uma coisa éxotique.
Lembro-me que quando comprei meus ingressos, um para a estreia, dia 9 e outro para o dia 14 – dia da Saint-Valentin e quis me dar Depardieu chante Barbara de presente – só lamentei não ter 500 euros sobrando. Professora universitária brasileira, fazendo post-doc sem bolsa em Paris, significa dividir o salário por 4 em função das taxas de câmbio e das taxas para a remessa do dinheiro – se eu tivesse essa graninha sobrando iria ver esse show todas as noites, como nos anos 70 vi duas vezes os shows da Liza no Hotel Nacional; como nos anos 80 vi dez shows da Mercedes Sosa no Canecão; como meu filho recentemente viu 12 shows da Madonna em sete países diferentes, lá em casa é assim: a gente gosta de pouca gente, mas quando gosta, gosta mesmo.
Hoje ouvi o disco sem parar. É genial. E leio as críticas que anunciam: Depardieu triunfa com as canções de Barbara. Terça-feira estarei lá, porque como dizia o poeta: o importante é que nossa emoção sobreviva e eu completo: precisamos alimentá-la. Merci, Gérard, et à bientôt.

*Ingresso a 55 euros num país com salário mínimo de cerca de 1.300 euros. Menos de 200 reais, só que no Brasil o salário mínimo é inferior a 900 reais. Comparem com os preços dos shows daí e me digam se não tem algo de podre na República dos Bananas (nós).

** Sim ele tinha dois teleprompter em cena e, em 2004,  quando fez La Bête dans la jungle com a Fanny Ardant, usava ponto eletrônico. Bobagem. A memória vacila e a tecnologia está aí para ajudar. Prefiro Depardieu com teleprompter, ainda assim ele é infinitamente superior a 99% dos atores que já vi em cena. Pior é quando tem memória e não tem talento, aí não há tecnologia que salve.

PS - Vejam as fotos abaixo...tem um monte


 Cartaz do concerto

 Noite de lua cheia
Foto: Deolinda Vilhena

Lotação esgotada para a temporada toda 
Foto: Deolinda Vilhena

Julie Depardieu
Foto: Deolinda Vilhena

O palco do Théâtre des Bouffes du Nord
Foto: Deolinda Vilhena

A vista do palco do meu lugar D2
Foto: Deolinda Vilhena

O prazer de ter o CD um dia antes das lojas
Foto: Deolinda Vilhena

Philippe Katerine e Julie Depardieu na plateia
Foto: Deolinda Vilhena

Os dois Gérard, Depardieu e Daguerre, emocionadíssimos
Foto: Deolinda Vilhena

Chuva de mimosas
Foto: Deolinda Vilhena

Aplausos em profusão ecoavam pela sala
Foto: Deolinda Vilhena

O piano de Barbara, o patuá da noite
Foto: Deolinda Vilhena

 Sem palavras...
Foto: Deolinda Vilhena

A presença de Barbara era quase visível
Foto: Deolinda Vilhena

O público não queria deixar a sala
Foto: Deolinda Vilhena

Julie Depardieu entrevista na porta de entrada dos camarins
Foto: Deolinda Vilhena

 Proibido chegar perto do piano, segurança delicada mas atenta
Foto: Deolinda Vilhena

Que tumulto era esse no palco?
Foto: Deolinda Vilhena

O tumulto tinha nome: Charles Aznavour
Foto: Deolinda Vilhena

Momento de glória, euzinha com Aznavour
Foto: Deolinda Vilhena

Charles Aznavour pode inspecionar o piano de Barbara
Foto: Deolinda Vilhena

Mathieu Amalric estrela do cinema francês na porta do teatro
Foto: Deolinda Vilhena

Uma rosa de Gérard Depardieu
Foto: Deolinda Vilhena

Uma hora depois estamos todos na porta do teatro
Foto: Deolinda Vilhena

 A lua também ficou à espera de Gege ou Dede