Fachada Comédie-Française - Place Colette
Foto: Deolinda Vilhena
A cada vez que entro no prédio da
Comédie-Française uma emoção diferente toma conta de mim, sinto o ritmo
descompassado do meu coração quando cumprimento Marivaux, Racine e Beaumarchais
antes de fazer um carinho nos pés do meu grande amigo Molière. Meu amigo, Momo,
Molière, "patron", e posso conversar um bom tempo com ele, para
desespero de quem me acompanha ou do pessoal da segurança que, no mínimo, deve
me achar louca.
A companhia teatral mais antiga do
mundo, fundada em 21 de outubro de 1680 por decreto do rei Luís XIV, mexe com
essa papa-chibé desde sempre, quem nasce numa cidade que tem um teatro como o
da Paz aprende desde cedo a respeitar a tradição, e os quase 337 anos da
Comédie-Française me inspiram mais do que respeito, sou uma devota convicta da
Comédie-Française.
Marivaux
Foto: Deolinda Vilhena
Racine
Foto: Deolinda Vilhena
Beaumarchais
Foto: Deolinda Vilhena
Acarinhando Molière
Foto: Irène Kirsch
Assim como sou adepta de uma das mais
bonitas definições sobre a missão da Comédie-Française, dada por Jean-Pierre
Vincent, antigo administrador do Français (como os parisienses de berço se
referem à Comédie-Française): “A função de um teatro excepcional é ser o
instrumento para medir e atualizar o que significa ser francês. É uma espécie
de nossa carteira de identidade.”.
Carteira de identidade de um povo. Que
falta eu sinto disso no Brasil! Não faltaram tentativas, o sonho existe desde João Caetano no final do século XIX,
passando pela Companhia Dramática Nacional nos anos de 1950 dirigida por Bibi
Ferreira, mas chegamos ao século XXI sem um teatro nacional no Brasil. É dizer do
quanto não nos respeitamos enquanto gente de teatro e do quanto nos deixamos
ser desrespeitados.
Primeiro teatro nacional da França a
Comédie-Française tem com "missão": "representar as peças do seu
repertório" e "assegurar a influência nacional e internacional",
graças à "continuidade de uma companhia de atores" e a alternância de
papéis. Reza a tradição que a Comédie-Française repousa sobre um tripé composto
pela exceção, a sustentabilidade e a vitalidade, não por acaso sua trupe é a
mais antiga em atividade no mundo. Sua divisa, Simul et Singulis “être ensemble
et être soi même”, é algo como “estar junto e ser você mesmo”.
Dona de um Repetório, que nada mais é que o
conjunto de obras que podem ser interpretadas na Salle Richelieu pela
Comédie-Française, com cerca de 3.000 peças, um repertório sempre em
movimento, enriquecido ao longo dos séculos de escrituras teatrais as mais
variadas.
Uma outra característica bastante
interessante: a alternância, nos dias de hoje operada quase que unicamente pela
Comédie-Française. Em primeiro lugar a alternância específica dos espetáculos
que serão apresentados na Salle Richelieu, mas também a alternância dos
intérpretes, afinal a trupe encena concomitantemente oito peças em três palcos
diferentes – Salle Richelieu, Vieux-Colombier e Studio Théâtre – sem falar nas
turnês nacionais e internacionais, por isso vários atores interpretam um mesmo
papel e se revezam para assegurar a maior diversidade de proposições possível.
Verdadeira fábrica de espetáculos cada
apresentação da Comédie-Française é a reta de chegada do trabalho de uma extensa cadeia de savoir-faire das equipes que trabalham nas coxias. Cerca de
340 assalariados exercendo mais de 70 funções diferentes que são transmitidas e
reinventadas de geração em geração.
Desde 1995 a Comédie-Française é uma
EPIC - Estabelecimento Público de caráter industrial e comercial,
ou seja uma pessoa moral dotada de personalidade jurídica. Ela se
auto-administra com base nos decretos que fixam suas atribuições e determinam
as modalidades do seu funcionamento. É uma EPIC que apresenta especificidades
importantes ligadas à presença da Société des Comédiens-Français e ao lugar
preponderante ocupado pelos seus membros na gestão da casa.
A EPIC Comédie-Française é um Teatro
Nacional subvencionado pelo Ministério da Cultura e da Comunicação, responsável
pela gestão da Salle Richelieu (862 lugares) e da trupe, que se produz nas três
salas e em turnês.
O Théâtre du Vieux-Colombier (300
lugares) e o Studio-Théâtre (136 lugares) são sociedades anônimas responsáveis
por suas próprias salas e mantidas por subvenções do Ministério da Cultura e da
Comunicação no caso do primeiro, e da Comédie-Française sobre seu orçamento
para o caso do segundo. Sendo essas duas sociedades filiais do estabelecimento
público.
Salle Richelieu - 862 lugares
Foto: Site Comédie-Française
Orçamento Comédie-Française (EPIC)
38,63 milhões de euros (cerca de 135
milhões de reais) por ano
Subvenção do estado central: 63,38%
(cerca de 86 milhões de reais)
Nesse orçamento estão computadas todas
as despesas relativas à: trupe, não importando em qual das salas ela se
apresenta; ao teatro em estado de funcionamento, nesse caso a Salle Richelieu e
a produção e a exploração dos espetáculos, uma vez que a Comédie-Française
garante ela mesma, por meio dos seus artesãos e funcionários, em seus ateliês e
com dinheiro do próprio orçamento, a construção dos cenários, móveis,
acessórios, assim como os figurinos de cada criação, sem esquecer das despesas
relativas as turnês, entre 70 e 100 apresentações por ano, em média e as
operações audiovisuais (ao menos um filme por ano). O financiamento é garantido
em parte pela subvenção do estado, que cobre a maior parte das despesas, ao
qual se acrescentam as fontes de financiamento próprio: bilheteria,
audiovisual, turnês, mecenato, publicações, produtos derivados etc.
Théâtre du Vieux Colombier - 300 lugares
Foto: Site Comédie-Française
Orçamento do Teatro do Vieux-Colombier (antigo teatro de Jacques Copeau)
3 milhões de euros, cerca de 10,5
milhões de reais, dos quais a subvenção do estado representa cerca de 70%. Esse
orçamento cobre as despesas do custo de manutenção do Vieux Colombier, as
despesas de produção e exploração dos espetáculos. A subvenção de funcionamento
do estado, não aumenta desde 2005, em compensação as receitas próprias do
teatro estão em progressão há várias temporadas, em função – especialmente – do
aumento da atividade e do público pagante.
Studio Théâtre - 136 lugares
Foto: Site Comédie-Française
Orçamento do Studio-Théâtre
1,1 milhão e cem mil euros, cerca de 3
milhões e oitocentos e cinquenta mil reais, sendo que a subvenção da
Comédie-Française representa 60% desse valor. No caso do Studio-Théâtre esse
orçamento deve garantir o custo de manutenção do teatro e as despesas de
produção e exploração dos espetáculos.
Fonte: Site da Comédie-Française
http://www.comedie-francaise.fr/la-comedie-francaise-aujourdhui.php?id=491
http://www.comedie-francaise.fr/la-comedie-francaise-aujourdhui.php?id=491
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