mardi 17 janvier 2017

Os 395 anos de Molière

Já na chegada o encontro com Molière
Foto: Irène Kirsch

Domingo foi dia de festejar Molière e eu levei a sério a brincadeira. Participei de um concurso no twitter da Comédie-Française, acompanhei o concurso de desenhos e mais importante fui para o Français assistir Le Misanthrope e depois a cerimônia de homenagem ao meu autor preferido no dia dos seus 395 anos de nascimento.
Na página da Comédie-Française no Facebook estava escrito: a homenagem a Molière feita pela trupe data de 1773 – centenário da morte do autor – e era conhecida como “a apoteose de Molière”. Entretanto, acontecia no dia 17 de fevereiro, data de sua morte. A descoberta, em 1821 da certidão de batismo de Jean-Baptiste Poquelin, fez do dia 15 de janeiro o Dia de Molière na Comédie-Française.
A celebração do nascimento do “patrão/patrono” acontece anualmente, em presença de todos os atores da trupe reunidos em volta do busto de Molière. Aliás, no Foyer Pierre Dux, há uma enorme lareira com um espelho ainda maior e um belíssimo busto de Molière, e logo abaixo uma faixa de mármore na qual está gravada em baixo-relevo esta tradição.
Para mim especialmente, ontem vi pela quarta vez essa homenagem, o mais importante de tudo é a possibilidade de ver no palco da Salle Richelieu a trupe inteira, o que não acontece com frequência. Cada um dos membros escolhe um figurino e uma frase de uma peça de Molière e um a um eles se apresentam. Link para o vídeo da cerimônia de 15 de janeiro de 2016.
A noite de ontem foi ainda mais especial, foram apresentados os novos pensionários: Dominique Blanc e Julien Frison. Os pensionários entram na Comédie-Française contratados pelo Administrador Geral, para que possam tornar-se societários devem ter pelo menos um ano a serviço da Maison de Molière.
Ontem também foi dia de apresentarem os dois novos societários: Jérémy Lopes e Georgia Scalliet – brilhante atriz que tive a oportunidade de ver em cena semana passada em Le temps et la chambre de Botho Strauss, dirigida por Alain Françon no La Colline e ontem vivendo Célimène em Le Misanthrope dirigida por Clément Hervieu-Léger.
Os societários são membros da trupe da Comédie-Française que pertencem a Société des Comédiens-Français, escolhidos entre os pensionários contratados há pelo menos um ano pelo Administrador Geral.
Mas se há os que chegam há os que partem, e ontem Gérard Giroudon, 42 anos a serviço do repertório e do público da Comédie-Française “a tiré sa révérence” ou se despede do cargo de societário para dar oportunidade aos mais novos, uma vez que o estatuto da Comédie-Française não permite mais do que 40 societários, é preciso para permitir a entrada dos novos que partam os mais velhos, e como o mais antigo dos antigos – le Doyen não é mais velho pela idade, mas pelo tempo que tem de casa – Gérard Giroudon que era o patriarca desde 2013 foi gentilmente convidado a deixar seu lugar para os jovens. Desde 1º de janeiro de 2017, Claude Mathieu é Madame le Doyen da Maison de Molière e Gérard Giroudon passa a ser Societário Honorário, qualquer societário com 20 anos de casa pode ser nomeado Societário Honorário, a nomeação funciona como um símbolo do reconhecimento da Comédie-Française pela carreira artística do nomeado e permite que o mesmo possa, eventualmente, integrar o elenco das produções do Français.
Detalhe: todas essas decisões são tomadas na Assembléia Geral da Société des Comédiens-Français, a última aconteceu no dia 23 de dezembro de 2016.
Na noite de domingo diversas vezes me emocionei às lágrimas, os mais diversos sentimentos tomavam conta de mim. A alegria de poder estar ali, na terceira fila, no centro, a dois passos de tudo o que acontecia. A emoção de ver um teatro que desde 1680 passou pela monarquia, pela revolução, pelo império, pela primeira e pela segunda guerra mundial, pela primeira, pela segunda, pela terceira, pela quarta e pela quinta República e continuar ali, firme e forte, símbolo maior dos áureos tempos do rayonnement francês. A gratidão por poder presenciar um momento em que passado, presente e futuro se dão as mãos, quantas histórias ali vividas, quantas ainda por viver? E a tristeza de vir de um país onde isso não existe. Não há respeito pelos que fazem teatro. Os que fazem teatro não se dão ao respeito. Não há tradição, bem dizia Bibi que no Brasil só há uma tradição, acabar om todas as tradições. E quando não sabemos de onde viemos não saberemos jamais para onde queremos ir. A tristeza em saber que por mais que eu explique muitos não vão conseguir entender o que significa festejar os 395 anos de vida de Molière chez lui, na Comédie-Française. Dommage! Ou tant pis?
Joyeux anniversaire Molière, merci et à l’un de ces jours!

FOTOS 
Entrei e lá estava Molière de novo
Foto: Irène Kirsch
Réplica da poltrona do Doente Imaginário
Foto: Deolinda Vilhena

Busto de Molière no Foyer Pierre Dux 
Foto: Deolinda Vilhena

Depois da réplica a original
Foto: Deolinda Vilhena

Salle Richelieu 
Foto: Deolinda Vilhena

Na maior expectativa
Foto: Deolinda Vilhena


A beleza da Salle Richelieu
Foto: Irène Kirsch

Cenário de Éric Ruf para O Misantropo
Foto: Deolinda Vilhena

Final do espetáculo 
Foto: Deolinda Vilhena

Aniversariante em cena a festa vai começar
Foto: Deolinda Vilhena

As meninas estão em festa
Foto: Deolinda Vilhena

Uns contracenam com Molière
Foto: Deolinda Vilhena

Os atores dizem suas falas
Foto: Deolinda Vilhena

Denis Podalydès e Florence Viala
Foto: Deolinda Vilhena

Éric Génovèse ao centro
Foto: Deolinda Vilhena


Julien Frison e Dominique Blanc, novos pensionários
Foto: Deolinda Vilhena


Georgia Scalliet nova Societária com Gérard Giroudon que parte
Foto: Deolinda Vilhena



Ovação para Gérard Giroudon, 42 anos de Comédie-Française

Foto: Deolinda Vilhena

Em primeiro plano Claude Mathieu, Madame le Doyen 
Foto: Deolinda Vilhena

 Final de festa
Foto: Deolinda Vilhena


Posando mais uma vez ao lado dele
Foto: Irène Kirsch

Essas três últimas fotos foram roubadas...a Salle Richelieu estava vazia e a trupe no palco se preparava para a foto oficial. Eu muito discretamente, como num beijo roubado, roubei essas três fotos, por amor a essa trupe e por amor a Molière.

 Foto: Deolinda Vilhena
 Foto: Deolinda Vilhena

Foto: Deolinda Vilhena

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