Já na chegada o encontro com Molière
Foto: Irène Kirsch
Domingo
foi dia de festejar Molière e eu levei a sério a brincadeira. Participei de um
concurso no twitter da Comédie-Française, acompanhei o concurso de desenhos e
mais importante fui para o Français assistir Le Misanthrope e depois a
cerimônia de homenagem ao meu autor preferido no dia dos seus 395 anos de
nascimento.
Na
página da Comédie-Française no Facebook estava escrito: a homenagem a Molière
feita pela trupe data de 1773 – centenário da morte do autor – e era conhecida
como “a apoteose de Molière”. Entretanto, acontecia no dia 17 de fevereiro,
data de sua morte. A descoberta, em 1821 da certidão de batismo de Jean-Baptiste
Poquelin, fez do dia 15 de janeiro o Dia de Molière na Comédie-Française.
A
celebração do nascimento do “patrão/patrono” acontece anualmente, em presença
de todos os atores da trupe reunidos em volta do busto de Molière. Aliás, no
Foyer Pierre Dux, há uma enorme lareira com um espelho ainda maior e um
belíssimo busto de Molière, e logo abaixo uma faixa de mármore na qual está
gravada em baixo-relevo esta tradição.
Para
mim especialmente, ontem vi pela quarta vez essa homenagem, o mais importante
de tudo é a possibilidade de ver no palco da Salle Richelieu a trupe inteira, o
que não acontece com frequência. Cada um dos membros escolhe um figurino e uma
frase de uma peça de Molière e um a um eles se apresentam. Link para o vídeo da
cerimônia de 15 de janeiro de 2016.
A
noite de ontem foi ainda mais especial, foram apresentados os novos
pensionários: Dominique Blanc e Julien Frison. Os pensionários entram na
Comédie-Française contratados pelo Administrador Geral, para que possam
tornar-se societários devem ter pelo menos um ano a serviço da Maison de
Molière.
Ontem
também foi dia de apresentarem os dois novos societários: Jérémy Lopes e Georgia
Scalliet – brilhante atriz que tive a oportunidade de ver em cena semana
passada em Le temps et la chambre de Botho Strauss, dirigida por Alain Françon
no La Colline e ontem vivendo Célimène em Le Misanthrope dirigida por Clément
Hervieu-Léger.
Os
societários são membros da trupe da Comédie-Française que pertencem a Société
des Comédiens-Français, escolhidos entre os pensionários contratados há pelo
menos um ano pelo Administrador Geral.
Mas
se há os que chegam há os que partem, e ontem Gérard Giroudon, 42 anos a
serviço do repertório e do público da Comédie-Française “a tiré sa révérence”
ou se despede do cargo de societário para dar oportunidade aos mais novos, uma
vez que o estatuto da Comédie-Française não permite mais do que 40 societários,
é preciso para permitir a entrada dos novos que partam os mais velhos, e como o
mais antigo dos antigos – le Doyen não é mais velho pela idade, mas pelo tempo
que tem de casa – Gérard Giroudon que era o patriarca desde 2013 foi gentilmente
convidado a deixar seu lugar para os jovens. Desde 1º de janeiro de 2017, Claude
Mathieu é Madame le Doyen da Maison de Molière e Gérard Giroudon passa a ser Societário
Honorário, qualquer societário com 20 anos de casa pode ser nomeado Societário
Honorário, a nomeação funciona como um símbolo do reconhecimento da
Comédie-Française pela carreira artística do nomeado e permite que o mesmo
possa, eventualmente, integrar o elenco das produções do Français.
Detalhe:
todas essas decisões são tomadas na Assembléia Geral da Société des
Comédiens-Français, a última aconteceu no dia 23 de dezembro de 2016.
Na
noite de domingo diversas vezes me emocionei às lágrimas, os mais diversos
sentimentos tomavam conta de mim. A alegria de poder estar ali, na terceira
fila, no centro, a dois passos de tudo o que acontecia. A emoção de ver um
teatro que desde 1680 passou pela monarquia, pela revolução, pelo império, pela
primeira e pela segunda guerra mundial, pela primeira, pela segunda, pela
terceira, pela quarta e pela quinta República e continuar ali, firme e forte,
símbolo maior dos áureos tempos do rayonnement francês. A gratidão por poder
presenciar um momento em que passado, presente e futuro se dão as mãos, quantas
histórias ali vividas, quantas ainda por viver? E a tristeza de vir de um país
onde isso não existe. Não há respeito pelos que fazem teatro. Os que fazem
teatro não se dão ao respeito. Não há tradição, bem dizia Bibi que no Brasil só
há uma tradição, acabar om todas as tradições. E quando não sabemos de onde
viemos não saberemos jamais para onde queremos ir. A tristeza em saber que por
mais que eu explique muitos não vão conseguir entender o que significa festejar
os 395 anos de vida de Molière chez lui, na Comédie-Française. Dommage! Ou tant
pis?
Joyeux
anniversaire Molière, merci et à l’un de ces jours!
FOTOS
Entrei e lá estava Molière de novo
Foto: Irène Kirsch
Réplica da poltrona do Doente Imaginário
Foto: Deolinda Vilhena
Busto de Molière no Foyer Pierre Dux
Foto: Deolinda Vilhena
Depois da réplica a original
Foto: Deolinda Vilhena
Salle Richelieu
Foto: Deolinda Vilhena
Na maior expectativa
Cenário de Éric Ruf para O Misantropo
Foto: Deolinda Vilhena
Final do espetáculo
Foto: Deolinda Vilhena
Aniversariante em cena a festa vai começar
Foto: Deolinda Vilhena
As meninas estão em festa
Foto: Deolinda Vilhena
Uns contracenam com Molière
Foto: Deolinda Vilhena
Os atores dizem suas falas
Foto: Deolinda Vilhena
Foto: Deolinda Vilhena
Denis Podalydès e Florence Viala
Foto: Deolinda Vilhena
Foto: Deolinda Vilhena
Éric Génovèse ao centro
Foto: Deolinda Vilhena
Julien Frison e Dominique Blanc, novos pensionários
Foto: Deolinda Vilhena
Final de festa
Foto: Deolinda Vilhena
Foto: Deolinda Vilhena
Foto: Deolinda Vilhena
Foto: Deolinda Vilhena
Julien Frison e Dominique Blanc, novos pensionários
Foto: Deolinda Vilhena
Georgia Scalliet nova Societária com Gérard Giroudon que parte
Foto: Deolinda Vilhena
Ovação para Gérard Giroudon, 42 anos de Comédie-Française
Foto: Deolinda Vilhena
Em primeiro plano Claude Mathieu, Madame le Doyen
Foto: Deolinda Vilhena
Foto: Deolinda Vilhena
Posando mais uma vez ao lado dele
Foto: Irène Kirsch
Essas três últimas fotos foram roubadas...a Salle Richelieu estava vazia e a trupe no palco se preparava para a foto oficial. Eu muito discretamente, como num beijo roubado, roubei essas três fotos, por amor a essa trupe e por amor a Molière.
Foto: Deolinda Vilhena
Foto: Deolinda Vilhena
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