samedi 17 décembre 2016

Ir ao Soleil é reencontrar o grande amor


7 de dezembro de 2016, quarta-feira, cheguei do Brasil ontem e hoje já tomo o rumo da Cartoucherie de Vincennes. Maior que paixão, só amor. Paixão passa, amor é para sempre. Por isso é impossível entrar no ônibus – primeiro o 46 e depois o 112 – para ir à Cartoucherie de Vincennes, sede do Théâtre du Soleil, sem que um filme de quase 17 anos passe pela minha cabeça. Lembro-me como se fosse hoje da minha primeira ida ao Théâtre du Soleil em maio de 2000. Atravessei Paris de Oeste a Leste, peguei a linha 1 do metrô na estação Charles de Gaulle-Étoile para descer na estação final, Château de Vincennes. Era uma quinta-feira, eu tinha o coração na boca, ia assistir Tambours sur la digue, mas mais do que isso, realizaria um sonho – conhecer Ariane Mnouchkine e começaria a preparar a realização de outro sonho – fazer um doutorado na Sorbonne tendo o modelo de produção do Théâtre du Soleil como objeto de estudo.
Depois dessa primeira vez perdi a conta de quantas vezes fui à Cartoucherie, mas foram muitas. Inúmeras. Tantas, que desisti de contar. Só uma peça – Le Dernier caravansérail – eu assisti 55 vezes, vi a estréia e a última apresentação na Cartoucherie, e ainda fui a Quimper na Bretanha assistir aos espetáculos apresentados lá.
Entre setembro de 2001 e fevereiro de 2007 escrevi uma dissertação de Mestrado e uma tese de Doutorado sobre eles, tive a honra e o privilégio de fazer a maior parte da pesquisa no próprio teatro. Logo depois eles doaram o acervo para a Biblioteca Nacional François Mitterrand e, desde então, quem pesquisa sobre o Soleil não teve a mesma chance de acessar os documentos sur place e contar com a ajuda e o carinho de Maria Adroher, minha catalã preferida, para fazer as cópias necessárias.
Em menos de meia hora revi no ônibus as últimas duas décadas da minha vida. E ao chegar naquele portão azul, naquele lugar onde são fabricados artesanalmente os meus mais belos sonhos teatrais, abri um largo sorriso enquanto meus olhos não esconderam as lágrimas...um ano, nove meses e oito dias depois da última visita estou de volta, e de quebra, para ver a mais recente criação da trupe – Une chambre em Inde.
Porque quem nunca veio à Cartoucherie – mesmo que tenha visto as apresentações do Théâtre du Soleil pelo mundo – NÃO sabe que vir à casa do Soleil é muito mais do que ver um espetáculo de teatro, é redescobrir o teatro. No meu caso é mais do que isso, é renovar a crença no teatro e reencontrar meu grande amor.


Depois do primeiro sorriso, das primeiras lágrimas hora de levantar a cabeça e entrar com o pé direito na Cartoucherie de Vincennes porque eu sei tudo o me espera atrás desse portão azul...


Une chambre en Inde na parede escrito em branco na mesma parede de tijolinhos onde já li Tambous sur la Digue, Et soudain des nuits d’éveil, Le Dernier Caravansérail, Les Éphémères, Les Naufragés du Fol Espoir e Macbeth...entre maio de 2000 e dezembro de 2016 eu fui abençoada pelos deuses do teatro com sete criações de Ariane Mnouchkine...e a cada vez que aqui entrei vi TEATRO da melhor qualidade. 


As boas surpresas em minha vida parisiense parecem não ter fim. Chego para retirar meu ingresso, reservado há meses, e recebo esse presente: um convite. E já com lugar marcado. Um gesto de carinho, de atenção, de respeito, de amizade, que me toca. Muito. Faço parte de uma corrente que acredita que em TEATRO “de graça, não tem graça”, como diz Marcio Meirelles, por isso ao longo desses anos me habituei a comprar meus ingressos para ver os espetáculos do Théâtre du Soleil, e isso já gerou as mais diversas histórias. Quem me conhece sabe que posso até tentar ajudar para conseguir um ingresso para o Soleil, mas PAGO, não peço convite para ninguém, o Soleil é uma trupe independente, não é um teatro público, apesar da subvenção ministerial que recebem, cerca de 70% do orçamento deles vem da bilheteria e mesmo quando fazem muito sucesso por vezes são obrigados a interromper a temporada para não entrar no vermelho. Com o preço dos ingressos bem abaixo da média dos teatros privados de Paris, para Une Chambre en Inde o preço da inteira é de 40 € / para os grupos de mais de 10 pessoas e desempregados é de 30 euros e para estudantes de menos de 26 anos é de 20 €, se você vem a Paris e quer ir ao Soleil prepare seu dinheirinho, será muito bem empregado. 























1 commentaire:

Anonyme a dit…

Sempre lindos e claros textos obrigado .
Sempre estarei ąawui para ler.
Beijos lusitanos
Clara